Wallon

Wallon coloca a emoção como contendo diferentes formas de expressão colocando o indivíduo em contato direto com o meio social. Seria um tipo de comunicação constituída anteriormente a fala. Coloca-se também que a emoção precede os processos de desenvolvimento psíquico e social do indivíduo. O que eu percebo ai comigo por exemplo, é que muitas vezes eu sinto algum tipo de sensação, medo, raiva, amor, prazer e muito depois é que essa emoção passa para um nível de reflexão mental, para os meus pensamentos. As vezes eu ajo instintivamente à uma emoção que eu esteja sentindo se ao menos me dar conta de algum processo de pensamento verbal.
Em sua teoria da Pessoa Total, Wallon coloca que o desenvolvimento humano é conflituoso tendo três aspectos centrais: a afetividade, a inteligência e o ato motor. Eu entendo esses três aspectos também colocando que a afetividade estaria ligada às emoções, sentimentos, sensações, o afeto em si. Já a inteligência aos processos cognitivos de coordenação das estruturas psíquicas. Já o ato motor à própria motricidade, aos movimentos corporais de fato.
No momento em a afetividade prepondera sobre a inteligência, o sujeito volta-se para a construção do seu, sendo esse processo chamado de Movimento Centrípeto. Ocorrendo o contrário, colocando-se a inteligência como preponderante, o indivíduo foca na construção do conhecimento e exploração da realidade. Esse movimento seria o Centrífugo. E a modificação, desenvolvimento e evolução da afetividade ou inteligência são reciprocamente influenciadas. Muitos conhecimentos que eu adquire intelectualmente influenciaram algumas questões minhas puramente existênciais. Por exemplo, ao estudar os astros, o universo como um todo, pude perceber minha insignificância em relação ao todo, a partir disso modifiquei algumas estruturas afetivas em relação a minha vida.
Na teoria walloniana tanto o biológico e o social são extremamente importantes e indissociáveis. Wallon acredita que é da essência humana a sociabilidade, colocando que o ser humano é geneticamente social. Isso me lembra um texto que eu li em etologia II, que os seres humanos eram biologicamente culturais. O texto trazia que as evoluções culturais só puderam acontecer pois o biológico dos humanos foi evolutivamente selecionado para propiciar tais alterações. Evidenciando que todos os aspectos da vida do sujeito são totalmente integrados.
Ele afirma que os indivíduos podem ser compreendidos como sujeitos sociais que ao longo do seu desenvolvimento vai se individualizando e constituído a própria personalidade. Isso me lembra um pouco a questão do bebê, que não reconhece o que faz parte do corpo dele e da sua mãe, e aos poucos é que vai fazendo essa diferenciação. Sendo que a comunicação dos bebês está intimamente ligada ao aspecto da motricidade do tônus, também dos gestos, do choro, dos berros, evidenciando também o lado emocional, pelo contágio afetivo para os adultos.
O contágio afetivo é muito importante para a criança na constituição do seu eu. Pois ela pode começar a entender melhor como se dá a comunicação social no ciclo de trocas, onde ela percebe quando determinados comportamentos dela são mais ou menos contagiantes para às outras pessoas. Outro dia mesmo eu fui numa festa de um amigo meu na casa da tia dele, e as primas dele, entre 8 e 10 anos, tentavam de todas as formas chamar a atenção das pessoas presentes na festa. Elas faziam algum tipo de comportamento, quando elas percebiam que ninguém estava elogiando, ou rindo para elas, elas mudavam e faziam alguma outra coisa. Essa questão do contágio afetivo fica explícita quando uma pessoa boceja e alguma, ou algumas outras pessoas em volta desta começam a bocejar também.
Vou falar agora um pouco dos estágios do desenvolvimento infantil. Começo então pelo estágio impulsivo emocional, que ocorre no primeiro ano de vida do sujeito. Eu já caracterizei um pouco quando eu falei da interação do bebê com seu meio social, pois a afetividade é que orienta as suas relações nessa fase.
O estágio sensório-motor e projetivo acontece até o terceiro ano de vida. Ao contrário da outra fase que é centrípeta, está é centrífuga, onde a criança por meio da sua sensório-motricidade irá explorar o mundo físico fazendo relações cognitivas com o meio.
O personalismo, que seria o terceiro estágio se dá dos três aos seis anos. O movimento se inverte novamente e o sujeito irá entrar em um processo de constiruição da sua personalidade. Nessa construção da consciência de si, a criança volta seu interesse para a relação com as pessoas, sendo marcado por três momentos: a oposição, a sedução e a imitação. A fase da oposição seria a chamada fase do Não. Ele faz a negação do outro para tentar constituir sua própria identidade. Já a fase da sedução é caracterizada pelo fato de a criança querer a atenção de todos voltada para si. E a da imitação é quando o indivíduo não se contenta com suas próprias qualidades e quer adquirir para sua personalidade características de outras pessoas. Até nos adultos essas características (oposição, sedução e imitação) são evidentes. A oposição são aquelas pessoas céticas, que são acreditam vendo, ou por meio de muita argumentação. Muitas vezes são isoladas. Já a da sedução percebo em pessoas que se preocupam com sua aparência ou com atitudes com as outras pessoas para que possam agradá-las e tenham a atenção delas. E a imitação é muito comum quando nós aproximamos demais de algumas pessoas e começamos a pegar alguns comportamentos e manias de outras pessoas. Vícios de linguagem, tiques nervosos e tudo mais.
A quarta fase no desenvolvimento infantil seria o categorial, ocorrendo por volta dos seis anos de idade. Com a consolidação da função simbólica e à diferenciação da personalidade a criança obtém muitos avanços em relação a sua inteligência. Ela começa a fazer abstrações cognitivas da realidade de forma mais coerente e concreta. A criança volta-se normalmente para o plano exterior
E o quinto e último estágio o da adolescência. Muitas características do estágio do personalismo retornam ao indivíduo. Para mim, o que mais aconteceu nesse estágio foi o de oposição, negando praticamente tudo o que meus pais diziam e procurando conhecer a realidade através de mim mesmo. Nessa fase as questões biológicas fazem muita diferença na questão avaliativa do desenvolvimento do sujeito.
Na construção da pessoa Wallon coloca o jogo de alternância entre a afetividade e a inteligência. Eu pude perceber que em cada fase há um predomínio de um aspecto sobre o outro. Quando uma a fase é afetiva, a próxima será da inteligência e a próxima novamente afetiva e assim sucessivamente. Isso não quer dizer que em cada fase só exista um aspecto, mas que apesar de em determinada fase haver a predominância de um aspecto, tanto a inteligência como a afetividade continuam a se influenciar e se completar. Eu percebo que mesmo depois da adolescência continua a ocorrer nas pessoas esse jogo de alternância, como se elas fossem mudando de tempos em tempos, da afetividade para a inteligência. Algumas pessoas costumam dizer “vou dar um tempo para mim” (afetividade). Ou então, “vou investir mais nos meus estudos” (inteligência). Na psicogenética walloniana, a pessoa é um ser inacabada que está sempre se modificando e se reconstituindo.
O indivíduo em sua caminhada evolutiva necessita a todo momento de contato com outro e das interações e vivencias grupais, pois é só assim que ele poderá realmente construir sua personalidade, se diferenciando do outroa. Nesse ponto fica claro a importância do ambiente familiar e escolar na constituição da pessoa.
Para Wallon a relação eu-outro é de fundamental importância na constituição corporal e psíquica da pessoa. Ele fala do Eu Corporal, que como eu mencionei mais acima, está relacionado a questão de o bebê não diferenciar o que é seu e o da sua mãe. Na verdade o bebê não sabe também o que faz parte do seu próprio corpo. Muitas vezes ele pode morder alguma parte do seu corpo e começar a chorar, pois ele ainda não diferencia seu próprio corpo dos objetos do meio exterior. A consciência corporal é fundamental para se obter a consciência de si. Eu já fiz Yoga durante um tempo e percebi muito isso. A relação do corpo com o meu Eu Psíquico. Pois muitas características como rigidez ou flexibilidade em algumas posturas, ou a maneira de respirar se mostram presentes em outros aspectos da minha vida. O Eu Psíquico para Wallon integra tanto o afetividade como a inteligência, sendo também influenciada como demonstrei no meu exemplo pelo Eu Corporal.
Para mim a teoria walloniana parece uma mescla da teoria piagetiana com suas fases do desenvolvimento, e da wygotskiana com a relação eu-outro, sendo importante essa construção do meio social pelo sujeito.

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